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Olimpíadas e Baía de Guanabara, algo não aconteceu, alguém sabe?

Olimpíadas e Baía de Guanabara, algo não aconteceu, alguém sabe?

Em 2009, quando a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como sede da Olimpíada, os governos federal, estadual e municipal assumiram o compromisso de diminuir em 80% a poluição da Baía de Guanabara. Foi um dos argumentos para que os Jogos acontecessem no Brasil. Enquanto os oponentes Madri, Tóquio e Chicago eram cidades que já contavam com boa infraestrutura, o Rio tinha ainda muitas carências, e a Olimpíada deixaria um legado maior para a população ao viabilizar uma série de melhorias – a despoluição da baía entre elas.

Já nessa época, muitos ambientalistas questionaram a meta dos 80%, por considerá-la irreal. Seria impossível resolver um problema tão caro e complexo em sete anos. Ainda assim, o governo estadual do Rio continuou alardeando a despoluição próxima das águas da Guanabara. Em 2001, o presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), Wagner Victer, afirmou: “Bem antes dos Jogos de 2016, nós vamos ter uma posição excepcional na Baía de Guanabara para a realização das provas”.

Quando faltava pouco mais de um ano para a Olimpíada, o novo secretário de Meio Ambiente do Rio, André Corrêa, anunciou que seria impossível cumprir a meta. Segundo ele, um erro de comunicação criou falsas expectativas. “Hoje ninguém assume de onde surgiu essa meta de 80%. O fato é que quem disser que a baía estará limpa em menos de 25 anos vai estar mentindo”, diz.

A despoluição da Baía de Guanabara era um dos problemas mais espinhosos da cartilha olímpica. Uma meta tão complexa que o próprio Comitê Olímpico Internacional não foi tão rigoroso ao exigir seu cumprimento. Na prática, embora seja uma catástrofe ambiental para o Rio, a poluição da baía não interfere muito no andamento dos Jogos. As provas de vela são realizadas numa área onde há constante troca de água com o oceano, e por isso está menos sujeita aos efeitos da poluição. Optou-se por  desenvolver soluções paliativas para que nenhum vexame maior ocorresse durante a competição.

A Baía de Guanabara recebe, por segundo, 8.000 litros de esgoto e, por dia, 90 toneladas de lixo. Dos 15 municípios que ficam em seu entorno, somente Niterói tem um sistema de tratamento de esgoto minimamente razoável. A cidade de São Gonçalo, por exemplo, uma das mais populosas do estado, tem apenas 5% do esgoto tratado. O resto acaba indo direto para as águas. Durante décadas funcionaram lixões às margens da baía, e em qualquer chuva forte o lixo escorria para as águas. Hoje esses lixões foram desativados, mas o passivo de anos está depositado no fundo do mar, e com as variações de maré vem à tona. A coleta de lixo nesses municípios vizinhos também é precária, e com a chuva qualquer lixo deixado no chão fatalmente acaba na baía.

É um problema que envolve construção de redes de saneamento e tratamento, melhora nos serviços de coleta de lixo e programas de educação para a população, além de um modelo de gestão que integre as 15 cidades do entorno. “Se juntarmos todos os programas de despoluição desde 1995, já foram investidos na baía cerca de R$ 5 bilhões. Para realizar essa almejada despoluição, são necessários pelo menos R$ 20 bilhões”, diz o ambientalista e ex-velejador Axel Grael.

A poluição da baía poderia afetar as provas de vela de duas formas. Por um lado, o esgoto jogado no mar deixa a água imprópria para os atletas que têm contato direto com ela. Por outro, o lixo flutuante pode atrapalhar o desempenho dos barcos. Para o primeiro caso, o governo diz que elevou de 11% para 50% o volume do esgoto tratado que vai para a baía. Especialistas questionam o número, alegando que não chega a 20%. De toda forma, uma das principais obras de tratamento aconteceu na Marina da Glória, onde os atletas têm contato mais direto com a água ao entrar no barco. Nessa região a qualidade da água está sendo monitorada diariamente, e até agora não apresentou problema.

Quanto ao lixo flutuante, foram instaladas 17 ecobarreiras nos rios que despejam suas águas na baía. São telas que impedem a passagem de resíduos maiores, que ficam presos ali e são retirados por retroescavadeiras. Através desses rios chegava a maior parte do lixo da baía, incluindo sofás, geladeiras e televisores. Todo o lixo que já entrou durante décadas continua no fundo das águas ou concentrado em pontos de encalhe, como a Ilha de Pombeba, perto do cais do porto, que é uma espécie de atracadouro de lixo. Com o movimento dos ventos e das marés, os resíduos podem se soltar e continuar flutuando pela baía.

Para esses casos, desde o ano passado estão circulando pela Guanabara 12 ecobarcos,  embarcações de alumínio equipadas com caçambas e redes para apanhar o lixo. Eles recolhem cerca de 1 tonelada de lixo por dia da baía. Durante as provas de vela, os ecobarcos ficam posicionados ao lado das raias de competição, impedindo a aproximação de qualquer resíduo flutuante maior. Com esse sistema “esconde lixo”, a Baía de Guanabara pode cumprir seu papel na Olimpíada, mas nos anos seguintes continuará sendo a tragédia de sempre para os moradores do entorno.

Fonte: http://epoca.globo.com

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INDECOL

O INDECOL é uma Associação Privada, sem fins lucrativos, apartidária, que surge de um anseio, e necessidade social de se intensificar e expandir a defesa das minorias, assim colocadas como aqueles indivíduos que, em uma relação contratual ou não, sejam considerados juridicamente mais fracos.

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